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Foto do escritorLara Branco

TEMPO PARA ESCUTAR

Se você passar um tempo sozinho, com pouco contato humano, poderá perceber que consegue seguir uma rotina razoável que implique em cuidar de você, da sua casa e ainda ter tempo para aprender algo novo.


Sem demandas, solicitações e pedidos, a produtividade é bastante acessível.


Mas dentre as tantas ambições que já tive acesso desde que comecei a estudar o tempo, dar aulas e mentorar pessoas, nenhuma delas envolviam um plano de permanecer sozinho.


TEMPO PARA ESCUTAR

Nossos relacionamentos tanto profissionais quanto pessoais servem de combustível para nossas realizações e não só precisam, como merecem o nosso tempo. Que fique claro: não estou falando de quantidade, e sim de qualidade.


Dentre todas as milhões de coisas que poderia falar sobre a intersecção da gestão do tempo e dos relacionamentos, hoje vou destacar só uma.


Não por isso algo simples, não por isso algo pequeno, não por isso recorrentemente praticado. Mas de extremo valor e importância.


Quero falar sobre o tempo dedicado a escutar o outro. A premissa básica de um bom diálogo e da criação de todo e qualquer vínculo, permitir que o outro fale e oferecer nossa atenção dedicada, sem querer abreviar a fala, encurtar o raciocínio ou aguardando ansiosamente nossa vez de falar.


Escutar é uma arte e também uma musculatura que precisa ser praticada e exercitada e para isso, precisa de tempo.

Trago aqui algumas palavras de Rubem Alves para finalizar esse assunto:


“Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil… Parafraseio o Alberto Caeiro: “Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito; é preciso também que haja silêncio dentro da alma”. Daí a dificuldade: a gente não aguenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer… Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade […]


Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos. E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia. Eu comecei a ouvir. Fernando Pessoa conhecia a experiência, e se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras, no lugar onde não há palavras. A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa. No fundo do mar – quem faz mergulho sabe – a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos. Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia, que de tão linda nos faz chorar."


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